A ansiedade é uma emoção universal, que pode ser normal ou patológica. Todos nós já sentimos ansiedade, em algum momento das nossas vidas, no entanto, por vezes, ela é confundida com o medo.

o que é

A ansiedade é uma emoção universal, que pode ser normal ou patológica. Todos nós já sentimos ansiedade, em algum momento das nossas vidas, no entanto, por vezes, ela é confundida com o medo.

O medo é uma emoção básica, que surge como resposta a um estímulo/situação que seja reconhecido/a como um perigo real (e.g., quando nos encontramos a atravessar a passadeira e nos apercebemos de que vem um carro, na nossa direção, e não vai parar).

Por outro lado, a ansiedade é uma “mistura de emoções”, como o medo (predominante), a frustração, a apreensão, a repulsa, podendo sofrer variações, ao longo do tempo, em termos de duração e/ou intensidade.

Causas

A ansiedade poderá, ou não, ter uma causa associada. Um dos objetivos da terapia é identificar os fatores que desencadeiam esses episódios de ansiedade, com o intuito de reduzir a sua ocorrência. Esses episódios podem estar associados, por exemplo, a:

  • Experiências de elevado stress/traumáticas (bullying, assédio laboral, abuso sexual, acidente de viação, …);
  • Acontecimentos significativos e/ou inesperados (gravidez, perda de emprego, separação/divórcio, mudança de escola/trabalho, perda de uma pessoa próxima, mudança de localidade/país, ida para a faculdade, …);
  • Abuso de substâncias (abuso de medicação, drogas, álcool, nicotina, cafeína, …);
  • Dificuldades financeiras (desemprego, baixos rendimentos, dívidas, …);
  • Herança genética (histórico familiar de problemas de saúde mental);
  • Relações sociais e familiares (dificuldades a nível familiar, conjugal, interpessoal/social);
  • Baixa autoestima.

A minha ansiedade é normal ou patológica?

A ansiedade é, no fundo, uma resposta adaptativa do organismo, caracterizada por um conjunto de alterações fisiológicas, comportamentais e cognitivas, traduzindo-se num estado de grande ativação e alerta, perante um sinal de perigo ou ameaça.

Se pensarmos numa perspectiva evolutiva (evolução da nossa espécie), a ansiedade começou por surgir para nos proteger de eventuais ameaças (p. e., predadores), ou seja, surgia para que conseguíssemos sobreviver. Atualmente, e porque se vai adaptando e sofrendo alterações, conforme as nossas vivências e experiências, ela surge noutro tipo de situações (antes de um teste/exame/reunião, quando enviamos uma mensagem e esta foi vista e ignorada, …). Esta é uma ansiedade normal, saudável, adaptativa e necessária, para que possamos dar resposta às nossas necessidades, responsabilidades e objetivos (preparar-nos para uma reunião, estudarmos para um exame, …). No entanto, quando ela excede os limites da normalidade, torna-se desadaptativa e limitadora (física e psicologicamente). Essa é uma ansiedade patológica, ou seja, o perigo a que pretende responder não é real e/ou o nível de ativação e de duração são desproporcionais, face à situação que se está a vivenciar.

Como é que ela se manifesta?

  1. Os Sintomas Cognitivos

Todo o tipo de pensamentos que surge, diariamente, na nossa mente (sob a forma de imagens ou frases), de modo intrusivo e/ou assustador, mantendo-nos num estado de ativação intensa ( “e se o avião cair?”; “será que vou ser despedida?”; “já sei que vou falhar na apresentação oral”).

  1. Os Sintomas Físicos

A sintomatologia física engloba aquilo que acontece, no nosso corpo, como consequência da ansiedade. Em função da intensidade da ansiedade, o nosso organismo poderá manifestar diferentes tipos de sintomas físicos, como por exemplo:

  • Batimento cardíaco acelerado;
  • Pressão no peito;
  • Dificuldade em respirar;
  • Baixo ou elevado apetite;
  • Tensão muscular;
  • Dores de cabeça;
  • Diarreia;
  • Libertação excessiva de suor;
  • Movimentos repetitivos;
  • Insónias;
  • Tremores;
  • Boca seca;
  • Tonturas;
  • Náuseas;
  • Dor de estômago;
  • Etc.
  1. O nosso comportamento

A forma como agimos poderá sinalizar-nos que sentimos ansiedade, já que alguns comportamentos poderão estar a alimentar essa ansiedade. Esse tipo de comportamentos podem manifestar-se, através de:

  • Fome emocional (g., apetecer comer algo doce, antes de uma reunião importante);
  • Isolamento (g., ficar sozinho/a por medo de ser julgado/a; não sair de casa, por medo de se sentir mal e de não estar perto de uma zona de conforto);
  • Procrastinação, i.e., adiar uma tarefa, atividade e/ou decisão, criando obstáculos à sua concretização (adiar a tarefa que o chefe pediu, porque os prazos apertados lhe estão a gerar ansiedade);
  • Perfecionismo (dificuldade em avançar numa tarefa e concluí-la, porque a anterior não está perfeita);
  • Necessidade de controlo (fazer um plano pormenorizado e rigoroso, com todas as tarefas que tem de fazer, por medo de falhar com alguma coisa e/ou receio que digam que é “preguiçoso/a ou desorganizado/a”.
  • Autossabotagem (ser arrogante, num primeiro encontro amoroso, para que a outra pessoa não pense que se está logo a apaixonar).

O perigo de subestimar a ansiedade

É extremamente difícil aceitar que aquilo que sentimos é, afinal de contas, ansiedade, por não ser algo visível ou palpável. Por isso, a tendência é considerarmos que “isso vai passar”, porque “é só uma fase”, e sentirmos vergonha, evitando falar sobre o assunto, mesmo com quem nos é próximo.

Por esse motivo, muitas pessoas procuram ajuda, num estado limite, ou seja, quando a ansiedade já as domina (quando já não dormem bem, não conseguem comer ou comem excessivamente, não conseguem concentrar-se, não têm interações sociais, …), e, por vezes, já depois de terem realizado vários exames médicos (na sequência de algumas idas à urgência).

É, nesse sentido, preponderante alertar que, quando a ansiedade se torna uma presença assídua, compromete a nossa qualidade de vida, e, quanto mais a tentarmos evitar, mais ela ganha força, permanecendo na nossa vida. Se a ansiedade ganhar estas proporções (excessivas), no nosso dia a dia, o nosso humor estará, eventualmente, comprometido, podendo começar a surgir, também, uma sintomatologia depressiva.

Não subestime a sua ansiedade, pois ela irá dar-lhe pistas de que algo precisa de ser resolvido e que, para isso, terá de “olhar para dentro” e pensar mais em si!

 

Iara Espírito Santo, Psicóloga, OP 27238

 

Referências Bibliográficas

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