Ao longo do último ano, fruto da situação pandémica que atingiu o mundo inteiro, parece inequívoco que ocorreu um declínio significativo da atividade física nas pessoas com doenças crónicas nomeadamente nas pessoas com hipertensão e com obesidade com impacto elevadíssimo na qualidade de vida e na saúde destes indivíduos.
E nas pessoas que tiveram Covid 19? Uma das maiores dúvidas e preocupações de alguém que teve Covid 19 prende-se com o regresso seguro à atividade física.
Será que posso voltar a fazer desporto?
Será que vou conseguir voltar a fazer a minha caminhada, a minha corrida, a andar de bicicleta ou a jogar futebol com os meus amigos?
Estas são algumas das questões que passam pela cabeça da maioria das pessoas que teve Covid 19.
Sendo um tema tão recente é natural que ainda existam poucos estudos que nos ajudem a dar resposta a estas questões mas os investigadores já sugerem que muitas das pessoas que tiveram Covid 19 ainda apresentam ao fim de 6 meses pelo menos um dos seguintes sintomas: fadiga ou fraqueza muscular, dificuldade em dormir, ansiedade ou depressão.
Quais os riscos de realizar atividade física após ter tido Covid 19?
A comunidade científica tem vindo a identificar nestes doentes o risco de potencial lesão cardíaca, como por exemplo a miocardite (processo inflamatório ou infecioso do músculo do coração), e complicações tromboembólicas, como a embolia pulmonar. No caso da miocardite deve existir restrição da atividade física por um período de 3 a 6 meses.
As alterações potenciais das funções cardíaca e pulmonar têm de ser consideradas para um regresso seguro à prática da atividade física. Nos casos mais severos, sugere-se mesmo que haja uma avaliação médica antes do regresso à atividade física.
Como começar a fazer exercício físico após ter tido Covid 19?
Existe consenso na comunidade científica que o regresso à prática desportiva só deve ocorrer após 7 dias consecutivos em que a pessoa não apresenta qualquer sintoma.
Recomenda-se um regresso gradual, individualizado, respeitando a tolerância ao esforço de cada pessoa.
O regresso ou surgimento de novos sintomas como tosse, falta de ar, palpitações, febre ou perda de olfato são indicadores para interromper a atividade física e procurar avaliação médica antes de voltar a praticar exercício.
E quem não praticava exercício antes da doença? Está na hora de iniciar com os mesmos cuidados e no momento certo para se tornar mais ativo e com isso melhorar a sua saúde.
Os investigadores propõem um modelo com 5 fases para um regresso seguro à atividade física, que de seguida passamos a resumir. Importa referir que cada fase tem a duração mínima de 7 dias antes de progredir para a fase seguinte.
O objetivo da primeira fase é começar a preparar o regresso à atividade física.
Recomenda-se que nos primeiros 7 dias se façam atividades muito suaves como exercícios de flexibilidade e de respiração, ou uma caminhada suave sem que haja qualquer sensação de esforço ou de cansaço.
Nesta fase o objetivo é começar a introduzir atividades de baixa intensidade que podem incluir ligeiras tarefas domésticas ou no jardim, caminhada suave, exercícios de equilíbrio ou de yoga, com aumento gradual de 10 a 15 minutos por dia de acordo com a tolerância ao esforço de cada pessoa.
A progressão para a fase 3 deve ocorrer quando a pessoa tiver cumprido pelo menos 7 dias desta fase e for capaz de caminhar 30 minutos e tiver apenas uma sensação ligeira de cansaço ou esforço.
O objetivo deste terceira fase é introduzir exercício aeróbio de intensidade moderada e algum desafio em termos de trabalho de força.
Sugere-se a realização de dois períodos de exercício aeróbio (por exemplo, de caminhada a uma velocidade moderada, ou subir e descer escadas, ou corrida ligeira, ou natação, ou bicicleta) com um intervalo para recuperação entre cada série. Este exercício não deve provocar na pessoa uma sensação de elevada dificuldade ou cansaço. Como guia, a pessoa deve sentir que teria capacidade para manter uma conversa enquanto faz este exercício.
Tal como nas fases anteriores, a pessoa deve permanecer nesta fase pelo menos 7 dias e até ser capaz de realizar períodos de 30 minutos de exercício e que ao final de uma hora se sinta completamente recuperada do esforço realizado.
A fase 4 envolve movimentos mais complexos com introdução de exercícios de força, coordenação e equilíbrio como por exemplo a introdução de corrida com mudança de direção e a realização de circuitos de exercícios de força usando apenas o peso do corpo mas sem a sensação de elevada dificuldade ou intensidade.
Uma vez mais, a pessoa deve permanecer pelo menos 7 dias nesta fase e só progredir quando os níveis de fadiga forem normais e não tiver qualquer sensação de falta de ar, palpitações, sensação de exaustão ou alteração do estado de humor. Após completar esta 4ª fase a pessoa pode retomar a prática desportiva habitual que tinha antes da doença.
Fase de regresso à atividade desportiva pré-covid ou a um nível superior mantendo a vigilância – tosse, falta de ar, palpitações, febre ou perda de olfato são indicadores para interromper a atividade física e procurar avaliação médica antes de voltar a praticar exercício.
Sendo o regresso à atividade física um dos maiores desejos das pessoas que tiveram Covid 19 e face ao muito que ainda não se sabe sobre possíveis sequelas desta condição, importa que este seja um processo progressivo, gradual e acima de tudo seguro.
Mantenha-se ativo!
Fonte:
Salman, D.; Vishnubala, D.; Le Feuvre, P.; Beaney, T.; Korgaonkar, J.; Majeed, A.; McGregor, A. – Returning to physical activity after covid-19. BMJ 2021;372:m4721
André Viegas, Fisioterapeuta