Perna curta

O que é uma “perna curta”

A perna curta é uma condição musculoesquelética normalmente associada à ortopedia.

É uma diferença de tamanho entre os dois membros inferiores podendo originar disfunções a nível do alinhamento. Uma perna curta com uma dismetria inferior a 1 centímetro pode ser considerada como uma alteração “normal” não tendo relevância clínica, no entanto, diferenças superiores a 1 centímetro podem apresentar alterações biomecânicas originando limitações funcionais e disfunções musculoesqueléticas. (Queirós e Costa 5).

Os métodos de avaliação utilizados para confirmar uma perna curta é através da realização de um raio-x dismétrico, no entanto, existem testes musculoesqueléticos que podem evidenciar uma possível dismetria. (“Leg Length Discrepancy”)

Perna curta Anatómica

A dismetria anatómica é uma condição óssea, ou seja, a pessoa apresenta um encurtamento de um dos membros inferiores. A medição desta diferença é realizada entre o grande trocanter e o maléolo externo da tíbia. A dismetria pode ter causas congénitas como um desenvolvimento “anormal” durante a gravidez ou na infância. Podem também ser por condições adquiridas como por exemplo: traumas, quedas, doenças degenerativas ou operações cirúrgicas (próteses). (Leg Length Discrepancy)

perna curta Funcional

A dismetria funcional ou como é normalmente designada, “falsa perna curta” é uma diferença unilateral onde o comprimento do osso não se encontra afetado.

Pode ser causada por uma alteração mecânica do membro inferior, contratura muscular, desalinhamento estático ou dinâmico de um eixo de movimento, fraqueza muscular ou encurtamento muscular. Uma falsa perna curta pode originar compensações em movimentos realizados pela anca, joelho, tornozelo, pé e coluna. (Leg Length Discrepancy).

A disfunção mais comum de uma dismetria é a rotação da pélvis provocando uma torção. Na posição de pé, a nível biomecânico o peso do corpo induz na pélvis uma força (um vector) que segue da articulação da anca em direção ao pé. Existindo uma dismetria a pélvis vai começar a ser “puxada” em direção da cabeça do fémur adaptando numa rotação ou torção. Normalmente o movimento compensatório é de posteriorização do ilíaco do lado da perna curta, sendo que esta situação mantida no tempo pode originar uma flexão do joelho na perna “comprida”. (Knutson, 4)

Estas adaptações do corpo podem originar algumas complicações que estão implícitas à disfunção da perna curta, como por exemplo: síndrome do piramidal, contratura do quadrado lombar, contratura do tensor da fáscia lata, contratura ou estiramento do grande glúteo, médio e pequeno glúteo, lombalgia, disfunção da articulação da sacro-ilíaca, escoliose e osteoartrite das articulações da anca e joelho. (Chu 8,9)

Tratamento

Muitas vezes a assimetria pode ser observada e identificada quando o paciente encontra-se em crescimento antes de atingir a maturidade óssea. Nestes casos é aconselhado a utilização de ortóteses (como por exemplo palmilhas), com o objetivo de retificar as compensações, realizar as tarefas da vida diária sem queixas e deste modo evitar uma possível cirurgia.

As cirurgias numa primeira fase dificilmente são a primeira opção, no entanto, dependendo da diferença existente entre os membros inferiores podem realmente ser a opção mais viável. Os tratamentos cirúrgicos são divididos em dois grupos, de alongamento ou de encurtamento (Chu, 7).

 

Como os tratamentos cirúrgicos não são a primeira opção existe a necessidade de apresentar possíveis soluções, como por exemplo o recurso à osteopatia e à fisioterapia. A osteopatia pode ajudar através de técnicas desde manipulativas, músculo-energia, articulatórias, fasciais, viscerais e craniais que ajudam a devolver a liberdade de movimento, qualidade de vida e diminuição da sintomatologia. (Chu, 8).

 

A fisioterapia é também uma opção bastante viável para o alívio da sintomatologia e para o fortalecimento dos grupos musculares. O exercício terapêutico através do fortalecimento é uma das ferramentas que realmente pode ajudar, através de alguns exercícios para fortalecer o transverso abdominal, músculos que realizam a rotação externa e abdução da anca, extensores da anca e rotadores internos. (Huang et al. 4,5)

 

O fortalecimento destes grupos musculares em conjunto com vários exercícios lombares (Core) evidenciaram uma diminuição de sintomatologia dos participantes no estudo, melhoria do alinhamento pélvico, controlo motor da articulação da anca, flexibilidade e funcionalidade. (Huang et al. 4,5)

 

Como já foi referido anteriormente, a utilização das palmilhas pode ser uma possível abordagem para a melhoria desta condição, melhorando a sintomatologia e o equilíbrio que o sujeito necessita. A palmilha deve ser realizada por profissionais indicados, através de um molde prévio e especificamente adaptada à anatomia do pé.

Na revisão sistemática realizada (Campbell et al. 23,24), é possível observar que a utilização das palmilhas é uma opção de tratamento e que tem resultados positivos melhorando a sintomatologia das costas, anca e joelho assim como a diminuição da dor e problemas músculo-esqueléticos associados a uma “falsa perna curta”.

 

É importante salientar que estas possíveis soluções de tratamento isoladamente podem não ter o mesmo resultado quando realizadas em conjunto e em sintonia.

Tens uma parna curta ou suspeitas que possas ter? Agenda já a tua consulta!

 

 Gonçalo Neves, Fisioterapeuta, OF 6948

 

Bibliografia

 

Campbell, Mark T., et al. “Shoe Lifts for Leg Length Discrepancy in Adults with Common Painful Musculoskeletal Conditions: A Systematic Review of the Literature.” Shoe Lifts for Leg Length Discrepancy in Adults with Common Painful Musculoskeletal Conditions: A Systematic Review of the Literature, 2017, https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0003999317313941. Accessed 14 05 2025.

Chu, Kim Wai. “Manual Osteopathic Management of leg length discrepancies.” Manual Osteopathic Management of leg length discrepancies, 2015, https://nationalacademyofosteopathy.com/wp-content/uploads/2019/12/Manual-Osteopathic-Management-of-Leg-Length-Discrepancies.pdf. Accessed 9 Maio 2025.

Huang, Wen Hung, et al. Effectiveness of gluteal control training in chronic low back pain patients with functional leg length inequality, 2024, https://www.nature.com/articles/s41598-024-74348-x. Accessed 14 05 2025.

Knutson, Gary A. “Anatomic and functional leg-length inequality: A review and recommendation for clinical decision-making. Part I, anatomic leg-length inequality: prevalence, magnitude, effects and clinical significance.” Anatomic and functional leg-length inequality: A review and recommendation for clinical decision-making. Part I, anatomic leg-length inequality: prevalence, magnitude, effects and clinical significance, 20 Julho 2005, https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC1232860/pdf/1746-1340-13-11.pdf. Accessed 9 Maio 2025.

“Leg Length Discrepancy.” Physiopedia, https://www.physio-pedia.com/Leg_Length_Discrepancy. Accessed 8 May 2025.

Queirós, Ana FC, and Fernando GM Costa. “Leg Lenght Discrepancy: a brief review.” 2018, https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/114362/2/278728.pdf. Accessed 8 Maio 2025.