A Plagiocefalia é uma condição clínica caracterizada por uma deformidade no crânio do bebé, associada a um aplanamento de uma ou mais zonas do crânio.
A Plagiocefalia divide-se em Plagiocefalia Sinostótica (PS) ou Plagiocefalia Não Sinostótica (PNS) (Looman & Kack Flannery, 2012a).
A Plagiocefalia Sinostótica (PS) é uma condição rara caracterizada pela fusão prematura de uma ou mais suturas do crânio, causada por um desenvolvimento craniano anómalo, resultando numa Craniossinostose, sendo o tratamento cirúrgico (Dias & Klein, 1996)(Kajdic et al., 2018).
A Plagiocefalia Não Sinostótica (PNS) é mais comum, também chamada de Plagiocefalia Posicional ou Deformacional, não havendo comprometimento do crescimento craniano (Dias & Klein, 1996). Nestes casos, a cabeça do bebé e, por vezes, a face sofrem processos de modelagem como resultado de pressões intra-uterinas, pressões no parto ou como consequência de posicionamentos após o nascimento (Kennedy et al., 2009).
As causas da Plagiocefalia são variadas.
Em termos pré-natais, a modelagem intrauterina pode ser influenciada por condições como gestação múltipla, bebé que encaixou muito cedo ou que se manteve muito tempo na mesma posição (pélvico ou cefálico).
Durante o período perinatal, o crânio do recém-nascido, devido à sua flexibilidade, pode sofrer deformações durante o parto, especialmente em partos instrumentalizados ou prolongados.
Após o nascimento, a posição mantida da cabeça do bebé durante os primeiros meses de vida pode interferir no desenvolvimento normal dos ossos cranianos, especialmente se houver uma preferência de lado, torcicolo, etc.
A plagiocefalia não sinostótica (PNS) assistiu a um aumento de prevalência após a Academia Americana de Pediatria recomendar que os bebés dormissem na posição supina (de barriga para cima) para evitar a Síndrome de Morte Súbita Infantil (Moon et al., 2011).
Em Portugal, no ano de 2011, realizou-se um estudo na qual se identificou uma prevalência de 36,1% de PNS em lactentes saudáveis entre os 0 e os 12 meses de idade (Lopes et al., 2013). A PNS tem uma grande prevalência nos primeiros meses de vida, com o seu pico aos 4 meses (Looman & Kack Flannery, 2012).
Fatores de risco adicionais incluem:
A avaliação da Plagiocefalia envolve a observação da forma da cabeça e medição craniométrica (com o craniómetro) para avaliar a gravidade da assimetria e verificar a necessidade de encaminhamento para um neurocirurgião pediátrico.
Também avaliamos todo o corpinho do bebé, a face (assimetria na posição das orelhas; etc), postura, desenvolvimento motor e maturidade neurológica do bebé.
Estudos mostram que a intervenção precoce melhora significativamente os resultados, e a terapia manual é uma ferramenta eficaz no tratamento das assimetrias cranianas, especialmente antes dos seis meses de idade (Pastor-pons et al., 2021)
Em casos severos pode ser necessário o uso de ortóteses cranianas (capacetes personalizados) (Laughlin et al., 2011).
Além disso, os pais e cuidadores do bebé são importantes aliados deste processo, devendo adotar medidas posicionais e de transporte que favoreçam a liberdade de apoio da cabeça no local achatado. Almofadas de reposicionamento e dispositivos de babywearing ajudam bastante neste processo, além de serem uma excelente forma de estimular um dos sistemas mais importantes ao desenvolvimento do bebé: o sistema vestibular (equilíbrio) (Aarnivala et al., 2015a).
Fique atento aos sinais de alerta, como o bebé só rodar a cabeça para um dos lados ou ter tendência para dormir apenas para um dos lados, preferência por uma das maminhas ou dor a amamentar numa das maminhas. É essencial os pais irem mudando de lado o berço, ou a posição do bebé, uma vez que o bebé tende sempre a rodar a cabeça para o lado da mãe, bem como irem mudando o braço com que apoiam o bebé e, no caso de o bebé ser alimentado por biberão, terem o cuidado de ir trocando o braço de apoio, tal como acontece na amamentação(Aarnivala et al., 2015b).
Se notar qualquer um destes sinais, consulte um fisioterapeuta ou osteopata pediátrico. A identificação precoce e a intervenção adequada são cruciais para o sucesso na correção das assimetrias cranianas.
Beatriz Alberto, Fisioterapeuta Pediátrica, OF 1803
Referências:
Aarnivala, H., Vuollo, V., Harila, V., Heikkinen, T., Pirttiniemi, P., & Valkama, A. M. (2015). Preventing deformational plagiocephaly through parent guidance: a randomized, controlled trial. European Journal of Pediatrics, 174(9), 1197–1208. https://doi.org/10.1007/s00431-015-2520-x
Dias, M. S., & Klein, D. M. (1996). Occipital Plagiocephaly: Deformation or Lambdoid Synostosis.
Kajdic, N., Spazzapan, P., & Velnar, T. (2018). Craniosynostosis-recognition, clinical characteristics, and treatment. In Bosnian Journal of Basic Medical Sciences (Vol. 18, Issue 2, pp. 110–116). Association of Basic Medical Sciences of FBIH. https://doi.org/10.17305/bjbms.2017.2083
Kennedy, E., Majnemer, A., Farmer, J. P., Barr, R. G., & Platt, R. W. (2009). Motor development of infants with positional plagiocephaly. Physical and Occupational Therapy in Pediatrics, 29(3), 222–235. https://doi.org/10.1080/01942630903011016
Laughlin, J., Luerssen, T. G., Dias, M. S., Hammer, L., Brown, O., Curry, E., Lessin, H., Rodgers, C., Simon, G., Bean, X., Piatt, J., Aldana, P., Ragheb, J., Partington, M., & Gruber, D. (2011). Prevention and management of positional skull deformities in infants. Pediatrics, 128(6), 1236–1241. https://doi.org/10.1542/peds.2011-2220
Looman, W. S., & Kack Flannery, A. B. (2012). Evidence-Based Care of the Child With Deformational Plagiocephaly, Part I: Assessment and Diagnosis. Journal of Pediatric Health Care, 26(4), 242–250. https://doi.org/10.1016/j.pedhc.2011.10.003
Lopes, A., Águeda, S., Ferreira, S., Almeida, A. F., Silva, H., & Pinto, F. (2013). Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria. www.infocefalia.com
Moon, R. Y., Darnall, R. A., Goodstein, M. H., Hauck, F. R., Willinger, M., Shapiro-Mendoza, C. K., & Couto, J. (2011). SIDS and other sleep-related infant deaths: Expansion of recommendations for a safe infant sleeping environment. In Pediatrics (Vol. 128, Issue 5). American Academy of Pediatrics. https://doi.org/10.1542/peds.2011-2285
Pastor-pons, I., Hidalgo-garcía, C., Lucha-lópez, M. O., & Barrau-lalmolda, M. (2021). Effectiveness of pediatric integrative manual therapy in cervical movement limitation in infants with positional plagiocephaly : a randomized controlled trial. 9, 1–12.