A pubalgia em atletas

A pubalgia em atletas é um problema comum e conhecido por ser uma condição bastante complexa.

A grande variedade de possíveis lesões e de estruturas afetadas contribuem para a complexidade da pubalgia. Para ter ideia podemos encontrar inúmeras estruturas afetadas num quadro de pubalgia: fáscea posterior do canal inguinal, inserção distal do reto abdominal, inserção proximal do adutor largo, aponevrose do oblíquo externo e afetação da própria sínfise púbica.

 

4 áreas chave a identificar: adutores, canal inguinal, psoas-ilíaco e sínfise púbica.

Fonte – Consensus statement Doha agreement meeting on terminology and definitions in groin pain in athletes.

 

O que é a pubalgia

O termo pubalgia é usado genericamente para descrever a localização da dor que pode ser na região púbica (sínfise púbica), na zona abdominal (inserção do músculo reto abdominal), ou na região dos adutores, podendo ser unilateral ou bilateral.

A pubalgia é mais prevalente em atletas sujeitos a atividades que impliquem corrida, remate, mudanças de direção e de velocidade súbitas, acelerações e travagens, como no futebol, futebol americano ou hóquei no gelo.

O futebol é um desporto caraterizado pelo aumento crescente da exigência física da modalidade, sujeitando a anca e a pélvis a um grande stress em termos biomecânicos, sendo a pubalgia muito comum em jogadores de futebol.

No futebol, a pubalgia representa 4 a 19 % do total de lesões nos atletas masculinos e 2 a 14% nas atletas femininas, sendo uma condição com maior incidência em homens. Esta diferença parece ser explicada pela diferença anatómica da pélvis do homem e da mulher.

Os fatores de risco

A evidência científica aponta sobretudo a existência de um quadro anterior de pubalgia (lesão anterior), o elevado nível de jogo, a redução da mobilidade na anca – diminuição do movimento de adução da anca, o défice de força e os baixos níveis de treino específico como fatores a ter em conta.

Nos atletas com pubalgia verifica-se dor e diminuição da força dos adutores, redução da amplitude de rotação interna da anca e alteração da atividade muscular da musculatura do tronco.

Em termos de história clínica é habitual o atleta relatar um aumento progressivo dos sintomas, começando de forma unilateral, podendo referir dor na região inferior do abdómen ou nos adutores, no períneo, testículos ou canal inguinal. É frequente a descrição de história de dor com meses ou mesmo anos de evolução.

Inicialmente a dor só se manifesta com a atividade desportiva (acelerações e mudanças de direção bruscas, remates) com a tosse ou espirro, melhorando ou mesmo desaparecendo com o repouso.

Esta lesão pode afetar significativamente o desempenho do atleta causando sérias limitações na atividade desportiva e no seu dia a dia.

Em termos de mecanismos potencialmente lesivos, consideram-se a corrida de alta intensidade, o sprint, as mudanças bruscas de direção e o remate.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito através da análise detalhada da história clínica e do exame físico.

Em termos de imagiologia não existe ainda consenso porque é frequente a existência de alterações em exames realizados a atletas que não apresentam qualquer sintoma. Ou seja, em atletas sem dor são também frequentemente relatadas alterações nos exames imagiológicos. 

A palpação das estruturas assume papel relevante no diagnóstico diferencial que deve ainda contemplar a realização de testes de movimentos resistidos e testes de extensibilidade, podendo a dor ser sobretudo categorizada em 4 áreas chave: adutores, psoasilíaco, canal inguinal ou sínfise púbica.

Tratamento

Em termos de tratamentos, os resultados da investigação apontam para o seguinte:

Programas reabilitação com foco no exercício com supervisão têm maior probabilidade de sucesso e de regresso à prática desportiva que abordagens de tratamento passivas; abordagens multimodais que incluam terapia manual e exercício podem resultar num regresso mais rápido à prática desportiva.

O foco na intervenção da fisioterapia deve passar pelo aumentar a força do core, a resistência, a coordenação e corrigir défices de extensibilidade e de desequilíbrios entre os músculos abdominais e na anca.

Deve ainda ser objetivo da intervenção a melhoria da estabilidade dinâmica lombopélvica e da mobilidade da coluna lombar e da anca – tanto em termos articulares como de tecidos moles.

O programa de reabilitação dura habitualmente 10 a 12 semanas com a reintrodução nessa fase na atividade desportiva na ausência de dor, de forma gradual.

De uma forma geral a cirurgia deve ter sida como opção para o caso de ausência de melhoria significativa com a abordagem conservadora.

Agora o primeiro passo tem de ser seu… agende a sua sessão.

André Viegas, Fisioterapeuta