A saúde mental na adolescência é uma preocupação crescente para muitas famílias. Neste artigo explicamos como identificar sinais de alerta, os tipos de perturbações mais comuns e como agir atempadamente.
A adolescência é considerada um período de transição no desenvolvimento físico e psicológico de um ser humano; culturalmente, visto como a passagem da infância para a idade adulta.
Se a nível biológico, este período é marcado pelo início da puberdade (uma fase caracterizada por alterações físicas), a nível cognitivo, é caraterizada pelo desenvolvimento da capacidade de pensamento abstrato, de conhecimento e de raciocínio lógico. No que respeita ao nível social, designa-se como uma etapa de preparação para os papéis socialmente associados à população adulta (e.g., o de parceiro/a romântico/a, o de profissional, o de pai/mãe, entre outros).
Importa mencionar que o cérebro de um/a adolescente é diferente do cérebro de um adulto; e está (e estará) em desenvolvimento, sensivelmente, até aos 24/25 anos de idade, momento em que ocorre a sua maturação total. Nesse sentido, alguns comportamentos vistos como “explosivos” (emocionalmente), como “falta de empatia”, como “infantilidade” ou como “desleixo e irresponsabilidade” são, na verdade, naturais, já que é neste período que ocorrem as maiores mudanças nas áreas cerebrais responsáveis pelo autocontrolo, pelo discernimento, pelas emoções e pela organização [córtex pré-frontal].
Contudo, o “ser natural” não significa “não precisar de atenção ou de cuidado”, muito pelo contrário. Sendo este um período crítico – que acarreta diversas mudanças e desafios para o/a adolescente – pode impulsionar o surgimento de sintomas, essencialmente, associados à ansiedade e à depressão, aumentando o risco de desenvolvimento de patologias psicológicas, na idade adulta.
Por esse motivo, cuidar e trabalhar a sua saúde mental torna-se preponderante, não só para a sua vivência diária, como para o seu futuro, já que poderá impactar, essencialmente, a sua capacidade de estudar/trabalhar, de estabelecer relações interpessoais e afetivas, de participar em atividades de lazer, e de se enriquecer a nível social e cultural. Nesse sentido, os contextos em que o/a adolescente se insere – família, escola, comunidade, cultura, amigos, … – e a sua interação com os mesmos são, particularmente, importantes neste período, condicionando a forma como se irá desenvolver, como se irá comportar, como se irá ver/caracterizar e como verá o mundo.
Na adolescência, as perturbações de ansiedade são muito comuns, afetando o bem-estar dos/as adolescentes, a nível emocional, social e académico. Entre os vários tipos de Perturbações de Ansiedade, as mais comuns, nesta faixa etária, são: a Perturbação de Ansiedade Generalizada, a Perturbação de Ansiedade Social, a Perturbação de Pânico e as Fobias Específicas.
Estas perturbações poderão desencadear diversos sintomas, como: a preocupação excessiva, a agitação/inquietação, a irritabilidade, as dificuldades de concentração, o cansaço, as dores no peito e as palpitações, os tremores, os problemas de sono, as alterações gastrointestinais, os ataques de pânico, entre outros.
As perturbações do humor, na adolescência, afetam a forma como o/a adolescente sente e lida com as suas emoções, podendo manifestar-se sob a forma de tristeza persistente, irritabilidade/raiva, agitação, desmotivação/apatia, impulsividade, frustração, isolamento social, alterações no sono e/ou no apetite, oscilações extremas de humor, ideação suicida, entre outros sintomas.
Nesta faixa etária, as perturbações do humor mais comuns são: a Depressão e a Perturbação Disruptiva da Desregulação do Humor.
Neste período de grandes mudanças, a relação com o corpo e a alimentação podem desempenhar um papel impactante na formação da identidade e da autoestima dos/as adolescentes, existindo uma maior vulnerabilidade para o surgimento de Perturbações do Comportamento Alimentar, principalmente: a Anorexia Nervosa, a Bulimia Nervosa e a Ingestão Alimentar Compulsiva.
Alguns dos sinais de alerta são: a perda de peso exagerada (decorrente da ingestão insuficiente de alimentos); o medo intenso de engordar; e os episódios frequentes de ingestão de grandes quantidades de comida, seguidos de ações que impeçam o ganho de peso (e.g., indução de vómito) ou, por outro lado, sem que sejam seguidos por ações que impeçam o ganho de peso.
Estas perturbações provocam distúrbios graves, na forma como os/as adolescentes avaliam o seu peso e a sua imagem corporal, e podem desencadear diversos problemas de natureza física (e.g., anemia, osteoporose, lesões cardíacas e cerebrais, refluxo gástrico, hipertensão arterial, diabetes, …).
Esta perturbação é caracterizada pela presença de obsessões (pensamentos, imagens e/ou impulsos intrusivos e repetitivos) e compulsões (comportamentos ou rituais repetitivos), que causam um sofrimento significativo e interferem no dia a dia do/a adolescente.
Estas obsessões geram fortes níveis de ansiedade nos/as adolescentes, pelo que as compulsões atuam no sentido de aliviar essa ansiedade (algo que, na verdade, não funciona).
Esta é uma perturbação do neurodesenvolvimento, que pode manifestar-se, através de: dificuldades de atenção, hiperatividade e impulsividade. Poderá ter uma influência genética, sendo que haverá uma maior tendência para a mesma, se os fatores genéticos se conjugarem com fatores ambientais (e.g., ambientes violentos, negligência dos/as cuidadores, etc.). É importante salientar que a PHDA “não é uma fase”, mas uma condição crónica, que pode persistir na adolescência e na idade adulta.
Assim, alguns dos sintomas mais comuns são: a falta de atenção/concentração nas tarefas; a desorganização; a resistência em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental; os “esquecimentos” frequentes; a irrequietude motora/agitação constante; a dificuldade em esperar pela sua vez; o interromper constante de conversas; entre outros.
A prevenção é a melhor forma de garantir um desenvolvimento emocional saudável, para o/a adolescente. Por esse motivo, a manutenção de um ambiente familiar que privilegie, essencialmente, a atenção, a disponibilidade e a empatia – para com ele/a – será fundamental, nesta fase. No entanto, existem mais alguns aspetos a ter em conta, nesse sentido, tais como:
Existem diversos fatores que podem condicionar a saúde mental e o bem-estar dos/as adolescentes, nomeadamente: a relação com os pares e/ou com a família, acontecimentos negativos e/ou inesperados (e.g., a perda de um/a ente querido/a, o bullying, o abuso, a reprovação na escola, uma mudança de escola/casa…), o consumo de substâncias, entre outros.
São considerados “sintomas normais” os que decorrem da sua fase de desenvolvimento, sendo, por isso, transitórios, pouco intensos e restritos a uma área da sua vida, não impactando o seu desenvolvimento (e.g., sintomas de ansiedade, antes de entrar numa nova escola, que se desvanecem, ao fim de umas semanas). Ao invés dos sintomas patológicos, que são intensos, frequentes e persistentes, por um período prolongado, impactando diversas áreas da vida do/a adolescente e, consequentemente, o seu desenvolvimento psicológico. Alguns dos sinais que se deve ter em conta:
Habitualmente, o tratamento aconselhado – neste tipo de situações – é a intervenção psicológica e/ou psicofarmacológica (Consulta de Psicologia Clínica e/ou Pedopsiquiatria).
Este tipo de intervenções irá centrar-se, principalmente: na redução dos sintomas, na desconstrução de crenças e de padrões de comportamento, no desenvolvimento de competências para lidar com as emoções, na promoção de relações saudáveis e seguras, bem como no desenvolvimento de uma comunicação eficaz.
Estar atento/a e agir, o mais rapidamente possível, pode determinar o sucesso do tratamento e, consequentemente, o futuro do/a adolescente. Por isso, se identificar, no/a adolescente, alguns dos sinais acima mencionados – de uma forma persistente e duradoura – marque uma consulta com a nossa equipa de psicologia e receba apoio especializado.
Iara Espírito Santo, Psicóloga, OP 27238
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